Um brega, uma bodega, uma
lanchonete, uma vendinha, uma whiskaria, barraca de caipifruta, infinitos
botecos.
Os acarajés pedem uma cachaça. O
espetinho de gato uma cerveja. No restaurante, porções mirradas de macaxeira e
mais três engradados de garrafas ao lado da mesa são o símbolo de status . Os
cardápios engordurados sugerem mais álcool do que comida.
Bêbados tombados pelos cantos não
chamam atenção, pois o reboliço de pessoas no calçadão á beira da praia ao som
do Arrocha é imperdível. Nem é feriado. Um dia normal, onde o povo se diverte
entre as cadeiras de plástico espalhadas pela rua.
Vários restaurantes com musica ao
vivo, muita diversão, bolero, baião, forró, repente. É convidativo, o cenário
sempre inclui gente beijando, grogues risonhos, pinga ao cair, pinga ao
levantar.
Uma viela decorada com luzes
verdes e vermelhas, possui uma tenda reggae. De longe ouve-se a cantoria dos seus
rastafaris. Um saxofonista toca um jazz solitário. Pede um trocado e ganha cada
vez mais generosas latas de cerveja. Ele, não esmorece. Se o pagamento, não é o
que espera, pelo menos tem seu reconhecimento.
No bar Recanto dos Paraenses, o
som do Tecnobrega, no talo, no último. Ninguém se irrita. Todos no
encoxa-encoxa
Percebo que nada disso é pecado. Pois
a moçada jovem da igreja invade as ruas dançando com faixas, diabolôs,
malabares, pirofagia. Parece mais uma rave ou ensaio do Circo D'Soleil. Geração
saúde, de vento em popa, fazendo seu espetáculo e convidando a todos para sua
missão de paz e amor. Como se os bares, não estivessem lotados de pessoas em
busca da mesma coisa.
Bem perto dali, uma pequena praça
tem show gospel. Os ânimos da velharada estão em ebulição. Saem de casa, por
uma causa válida, uma bagunça para afirmar sua fé. As saias longas não tiram o
rebolado das senhoras crentes. Os senhores fazem acrobacias para acompanhar a
canção, bater palmas, e segurar a Bíblia debaixo do braço.
Os hinos competem com o som do
axé dos alto-falantes dos carros passando na via próxima.
Ao entardecer tem ensaio da banda
marcial. Batuques nervosos.
Bailes privê, lual na praia, sexo
na areia. Engana-se quem pensa que a esbórnia acaba por ali. Não mencionei as
lojas, nos shoppings, nas lan house, nos mercados, nas escolas, postos de
saúde, clínicas, ônibus. Onde houver
gente se apinhando, tem gritaria, carnaval, aquele clima de feira. Muita
felicidade, para driblar a pobreza. Isso é vida.
A nordestina Gaibu é o reino da
folia.
...
Como sol e lua, a antítese perfeita
existe e se chama Araucária, no Paraná, o ponto mais frio do globo terrestre.
O típico exemplo deste paradoxo,
está na própria palavra "folia" que para os araucarienses significa beijo
roubado, namorico, paquera ou até sexo. Qualquer coisa, menos diversão. Não na
Cidade-Símbolo.
Em minha fracassada vida de
boêmio, todas as festividades á que compareci foram interrompidas pela polícia.
Se eu estou na esquina bebendo, a policia passa e me dispersa. Se estou
passeando pelo parque, o guarda me toca dali. Quando subo até o Colégio Szymanski
ver o movimento do centro, a guarda municipal baixa.
É cultural. Gente á noite na rua,
não presta. Viver bem é passar despercebido.
Lembro que até havia um costume
antigo, de ir até a delegacia para emitir um papel de permissão para fazer
festa.
A última vez que vi isto
acontecer, foi quando meus amigos, Odair e Mário resolveram fazer um fêrvo. Seus
pais viajaram para o Norte e a casa estava liberada.
Houve uma pequena confusão com uma
maloca na esquina que quis entrar de penetra. Num minuto, a polícia apareceu, e
rasgou a papelada de autorização, dizendo que aquilo já não valia mais de nada.
Me desiludi.
Seja no Jardim Industrial, Vila
Nova, São Francisco, Tayrá, enfim, em qualquer canto o divertimento sempre é
desmantelado pelos gambés.
Uma igreja evangélica abriu as
portas numa porta de comércio no Beira Rio. Divulgaram a inauguração com
placas, faixas e distribuíram panfletos pelas ruas. Quando o pastor resolveu
colocar caixas de som do cubículo para fora e anunciar com megafone para a
população, a coisa toda degringolou.
A música gospel rajava nos
alto-falantes e não demorou sequer metade do CD para a vizinhança ligar e nossa
tropa da moral aparecer. Vieram no atropelo e terminaram com a farra acústica.
Outro
fato aconteceu no bairro Costeira, onde prenderam um grupo de jovens fazendo um
baile de arromba, durante três dias á fio. O sarau era regado a bebidas
alcoólicas e tuch-tuch no máximo volume. Se os maiores e menores de idade estivessem
reunidos numa casa de família no
Réveillon, nada aconteceria. Porém, como se tratava de um muquifo de vileiros, cobrando entrada ou consumação, todos foram
para o xilindró.
Quando
peões de trecho vem se alojar na cidade, aquecer o comércio e namorar nossas senhoras
de idades, o que mais nos preocupamos? O barulho que podem causar. Não
toleramos isso.
A
única festança institucionalizada, a Festa do Pêssego, acabou anos atrás quando
uma criança foi vítima de uma bala perdida. Desde então vivemos no vácuo.
Hoje apenas
alguns rebeldes roqueiros comemoram. Num local adequado, com 5 vias de
requisição, assinado e protocolado pela prefeitura e secretaria de cultura,
agendado previamente, alvará, bilheteria e corpo de bombeiro.
É o
deserto da angústia. O fim da picada.
Araucária,
onde não tem festa. O marasmo é via de regra.
...
Plantão
Policial: Às 01h20, a Central recebeu uma denúncia de que várias pessoas
estavam consumindo bebidas alcoólicas e perturbando o sossego dos moradores da
rua José Biscaia, no jardim Tropical.
Uma
equipe da viatura foi deslocada até o local, efetuaram uma abordagem educativa nos
indivíduos, dispersando-os.