quinta-feira, 3 de outubro de 2013

Red Araucária Party Remix



Um brega, uma bodega, uma lanchonete, uma vendinha, uma whiskaria, barraca de caipifruta, infinitos botecos.
Os acarajés pedem uma cachaça. O espetinho de gato uma cerveja. No restaurante, porções mirradas de macaxeira e mais três engradados de garrafas ao lado da mesa são o símbolo de status . Os cardápios engordurados sugerem mais álcool do que comida. 
Bêbados tombados pelos cantos não chamam atenção, pois o reboliço de pessoas no calçadão á beira da praia ao som do Arrocha é imperdível. Nem é feriado. Um dia normal, onde o povo se diverte entre as cadeiras de plástico espalhadas pela rua.
Vários restaurantes com musica ao vivo, muita diversão, bolero, baião, forró, repente. É convidativo, o cenário sempre inclui gente beijando, grogues risonhos, pinga ao cair, pinga ao levantar.
Uma viela decorada com luzes verdes e vermelhas, possui uma tenda reggae. De longe ouve-se a cantoria dos seus rastafaris. Um saxofonista toca um jazz solitário. Pede um trocado e ganha cada vez mais generosas latas de cerveja. Ele, não esmorece. Se o pagamento, não é o que espera, pelo menos tem seu reconhecimento.
No bar Recanto dos Paraenses, o som do Tecnobrega, no talo, no último. Ninguém se irrita. Todos no encoxa-encoxa
Percebo que nada disso é pecado. Pois a moçada jovem da igreja invade as ruas dançando com faixas, diabolôs, malabares, pirofagia. Parece mais uma rave ou ensaio do Circo D'Soleil. Geração saúde, de vento em popa, fazendo seu espetáculo e convidando a todos para sua missão de paz e amor. Como se os bares, não estivessem lotados de pessoas em busca da mesma coisa. 
Bem perto dali, uma pequena praça tem show gospel. Os ânimos da velharada estão em ebulição. Saem de casa, por uma causa válida, uma bagunça para afirmar sua fé. As saias longas não tiram o rebolado das senhoras crentes. Os senhores fazem acrobacias para acompanhar a canção, bater palmas, e segurar a Bíblia debaixo do braço.
Os hinos competem com o som do axé dos alto-falantes dos carros passando na via próxima.
Ao entardecer tem ensaio da banda marcial. Batuques nervosos.
Bailes privê, lual na praia, sexo na areia. Engana-se quem pensa que a esbórnia acaba por ali. Não mencionei as lojas, nos shoppings, nas lan house, nos mercados, nas escolas, postos de saúde,  clínicas, ônibus. Onde houver gente se apinhando, tem gritaria, carnaval, aquele clima de feira. Muita felicidade, para driblar a pobreza. Isso é vida.
A nordestina Gaibu é o reino da folia.

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Como sol e lua, a antítese perfeita existe e se chama Araucária, no Paraná, o ponto mais frio do globo terrestre.
O típico exemplo deste paradoxo, está na própria palavra "folia" que para os araucarienses significa beijo roubado, namorico, paquera ou até sexo. Qualquer coisa, menos diversão. Não na Cidade-Símbolo.
Em minha fracassada vida de boêmio, todas as festividades á que compareci foram interrompidas pela polícia. Se eu estou na esquina bebendo, a policia passa e me dispersa. Se estou passeando pelo parque, o guarda me toca dali. Quando subo até o Colégio Szymanski ver o movimento do centro, a guarda municipal baixa.
É cultural. Gente á noite na rua, não presta. Viver bem é passar despercebido.
Lembro que até havia um costume antigo, de ir até a delegacia para emitir um papel de permissão para fazer festa.
A última vez que vi isto acontecer, foi quando meus amigos, Odair e Mário resolveram fazer um fêrvo. Seus pais viajaram para o Norte e a casa estava liberada. 
Houve uma pequena confusão com uma maloca na esquina que quis entrar de penetra. Num minuto, a polícia apareceu, e rasgou a papelada de autorização, dizendo que aquilo já não valia mais de nada. Me desiludi.
Seja no Jardim Industrial, Vila Nova, São Francisco, Tayrá, enfim, em qualquer canto o divertimento sempre é desmantelado pelos gambés.
Uma igreja evangélica abriu as portas numa porta de comércio no Beira Rio. Divulgaram a inauguração com placas, faixas e distribuíram panfletos pelas ruas. Quando o pastor resolveu colocar caixas de som do cubículo para fora e anunciar com megafone para a população, a coisa toda degringolou.
A música gospel rajava nos alto-falantes e não demorou sequer metade do CD para a vizinhança ligar e nossa tropa da moral aparecer. Vieram no atropelo e terminaram com a farra acústica.
Outro fato aconteceu no bairro Costeira, onde prenderam um grupo de jovens fazendo um baile de arromba, durante três dias á fio. O sarau era regado a bebidas alcoólicas e tuch-tuch no máximo volume. Se os maiores e menores de idade estivessem  reunidos numa casa de família no Réveillon, nada aconteceria. Porém, como se tratava de um muquifo de vileiros,  cobrando entrada ou consumação, todos foram para o xilindró.
Quando peões de trecho vem se alojar na cidade, aquecer o comércio e namorar nossas senhoras de idades, o que mais nos preocupamos? O barulho que podem causar. Não toleramos isso.
A única festança institucionalizada, a Festa do Pêssego, acabou anos atrás quando uma criança foi vítima de uma bala perdida. Desde então vivemos no vácuo.
Hoje apenas alguns rebeldes roqueiros comemoram. Num local adequado, com 5 vias de requisição, assinado e protocolado pela prefeitura e secretaria de cultura, agendado previamente, alvará, bilheteria e corpo de bombeiro.
É o deserto da angústia. O fim da picada.
Araucária, onde não tem festa. O marasmo é via de regra.

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Plantão Policial: Às 01h20, a Central recebeu uma denúncia de que várias pessoas estavam consumindo bebidas alcoólicas e perturbando o sossego dos moradores da rua José Biscaia, no jardim Tropical.
Uma equipe da viatura foi deslocada até o local, efetuaram uma abordagem educativa nos indivíduos, dispersando-os.