segunda-feira, 14 de fevereiro de 2022

Red Araucária Party Remix

 Um brega, uma bodega, uma lanchonete, uma vendinha, uma whiskaria, barraca de caipifruta, infinitos botecos.

Os acarajés pedem uma cachaça. O espetinho de gato uma cerveja. No restaurante, porções mirradas de macaxeira e mais três engradados de garrafas ao lado da mesa são o símbolo de status . Os cardápios engordurados sugerem mais álcool do que comida. Bêbados tombados pelos cantos não chamam atenção, pois o reboliço de pessoas no calçadão á beira da praia ao som do arrocha é imperdível. Nem feriado é. Um dia normal, onde o povo se diverte entre as cadeiras de plástico espalhadas pela rua. Vários restaurantes com musica ao vivo, muita diversão, bolero, baião, forró, repente. É convidativo, o cenário sempre inclui gente beijando, grogues risonhos, pinga ao cair, pinga ao levantar. Uma viela decorada com luzes verdes e vermelhas, possui uma tenda reggae. De longe ouve-se a cantoria dos seus rastafaris. Um saxofonista toca um jazz solitário. Pede um trocado e ganha cada vez mais generosas latas de cerveja. Ele, não esmorece. Se o pagamento, não é o que espera, pelo menos tem seu reconhecimento. No bar Recanto dos Paraenses, o som do Tecnobrega, no talo, no último. Ninguém se irrita quanto todos estão no encoxa-encoxa. Percebo que nada disso é pecado. Pois a moçada jovem da igreja invade as ruas dançando com faixas, diabolôs, malabares, pirofagia. Parece mais uma rave ou ensaio do Circo D'Soleil. Geração saúde, de vento em popa, fazendo seu espetáculo e convidando a todos para sua missão de paz e amor. Como se os bares, não estivessem lotados de pessoas em busca da mesma coisa. Bem perto dali, uma pequena praça tem show gospel. Os ânimos da velharada estão em ebulição. Saem de casa, por uma causa válida, uma bagunça para afirmar sua fé. As saias longas não tiram o rebolado das senhoras crentes. Os senhores fazem acrobacias para acompanhar a canção, bater palmas, e segurar a Bíblia debaixo do braço. Os hinos competem com o som do axé dos alto-falantes dos carros passando na via próxima. Ao entardecer tem ensaio da banda marcial. Batuques nervosos. Bailes privê, lual na praia, sexo na areia. Engana-se quem pensa que a esbórnia acaba por ali. Não mencionei as lojas, nos shoppings, nas lan house, nos mercados, nas escolas, postos de saúde, clínicas, ônibus. Onde houver gente se apinhando, tem gritaria, carnaval, aquele clima de feira, caranguejo azul passando de mão em mão e muita felicidade, para driblar a pobreza. Isso é a vida na praia de Gaibu em Pernambuco. Melhor definição para reino da folia. ... Como sol e lua, a antítese perfeita existe e se chama Araucária, no Paraná, o ponto mais frio do globo terrestre. O típico exemplo deste paradoxo, está na própria palavra "folia" que para os araucarienses significa beijo roubado, namorico, paquera ou até sexo. Qualquer coisa, menos diversão. Não na Cidade-Símbolo. Em minha fracassada vida de boêmio, todas as festividades á que compareci foram interrompidas. Se eu estou na esquina bebendo, a policia passa e me dispersa. Se estou passeando pelo parque, me tocam dali. Quando subo até o Colégio Szymanski ver o movimento do centro, a guarda municipal baixa. É cultural. Gente á noite na rua é negativo. Viver bem é passar despercebido. Lembro que até havia um costume antigo, de ir até a delegacia para emitir um papel de permissão para fazer festa. A última vez que vi isto acontecer, foi quando meus amigos, Odair e Mário resolveram fazer um fêrvo. Seus pais viajaram para o Norte e a casa estava liberada. Houve uma pequena confusão com uma maloca na esquina que quis entrar de penetra. Num minuto de som alto, a lei apareceu, rasgou a papelada, e disse que aquilo já não valia mais de nada. Me desiludi. Terra sem lei, terra sem tuch-tuch. Seja no Jardim Industrial, Vila Nova, São Francisco, Tayrá, enfim, em qualquer canto o divertimento sempre é desmantelado. Seja a festa que for. Uma igreja evangélica abriu as portas numa porta de comércio no Beira Rio. Divulgaram a inauguração com placas, faixas e distribuíram panfletos pelas ruas. Quando o pastor resolveu colocar caixas de som do cubículo para fora e anunciar com megafone para a população, a coisa toda degringolou. A música gospel rajava nos alto-falantes e não demorou sequer metade do CD para a vizinhança ligar e nossa tropa da moral aparecer. Vieram no atropelo e terminaram com a farra acústica. Esses dias atrás até saiu no jornal que prenderam um grupo de jovens no Costeira, fazendo um baile de arromba. O fim como sempre é o xilindró. Sejamos francos, quando peões de trecho vem se alojar na cidade, aquecer o comércio e namorar nossas senhoras de idades, o que mais nos preocupamos? Qual o barulho residual que podem causar. Infelizmente a população não tolera isso. Tudo menos, o vuco-vuco, o lesco-lesco, o lepo-lepo no nosso voto de silêncio. A única festança institucionalizada, a Festa do Pêssego, acabou a muitos anos atrás por uma tragédia. Aliás, por causa de vácuo me sinto dentro do filme Footloose.

Hoje quando algum rebelde roqueiro quer comemorar a vida. Precisa ser num local adequado, com 5 vias de requisição, assinado e protocolado pelos orgãos competentes, agendado previamente, alvará, banheiro adequado, bilheteria e o sim do corpo de bombeiro. É o deserto da angústia. O fim da picada. Araucária, onde não tem festa. O marasmo é via de regra. Sim, pode sorrir, mas sem assobiar. ... Plantão Policial: Às 19h20, a Central recebeu uma denúncia de que várias pessoas estavam perturbando o sossego dos moradores da rua José Biscaia, no jardim Tropical. Uma equipe da viatura foi deslocada até o local, efetuaram uma abordagem educativa nos indivíduos, dispersando-os.

sexta-feira, 19 de fevereiro de 2016

capa

 

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domingo, 1 de novembro de 2015

Anarchy In The AraU.K


O velho Melancia, foi ao posto de saúde e perguntou á atendente sobre seu remédio. Não tinha. Sem previsão. Perguntou do doutor. Não veio. Sem previsão.
Meia hora depois voltou carregando algumas ripas, martelo e um saco de pregos.
- Já tive um bar, sei como é isso. Quando o estoque acabou, eu estava endividado, com a corda no pescoço e não tive outra alternativa se não fechar de vez. Preguei as portas e fui me embora. Te aconselho a fazer o mesmo, moça. Prá que perder tempo aqui?
Enquanto se preparava para martelar, um alvoroço, alguns telefonemas e logo apareceu uma viatura. Algumas senhoras o alertaram. Ele despistou, saiu correndo, pulou o muro e vazou Jardim Planalto afora...
Discretamente o povo reage.
Já dizia Oiticica: seja malaco, seja herói.

...

O setor de odontologia do posto de saúde ficou meses interditado pela vigilância sanitária devido a proliferação de fungos motivado pela infiltração de água no teto. A prefeitura reformou a cobertura e só. Virou as costas. A parte interna do setor ainda contaminada era um entrave para a questão.
Foram inúmeras reclamações dos moradores, mas as reivindicações não foram ouvidas pelo governo.
O filho da servente do posto, indignado com esta inoperância, tomou a iniciativa comprou latas de tintas e outros materiais de construção e pôs a mão á obra. Deixou tudo nos trinques e o setor voltou a funcionar.
O ilustre desconhecido não se lança em campanhas, nem tem press release a seu favor. As mil promessas registradas em cartório pelo governante, de nada lhe serviram.
Muito se fala sobre a necessidade de mudanças. Ações efetivas são mais produtivas do que clamar por novas chances em outra eleição, daqui a sabe se lá quantos anos.
Já dizia um velho punk: faça você mesmo, piá!

...



Para o romancista inglês Bernard Shaw, esmola doada á caridade desobriga o governo de cumprir sua função social.
Para o ex-motorista araucariense Labamba, o ato de ajudar a cidade também trata-se de manifestação cultural. O moço pegou uma geladeira velha, encheu de livros e improvisou uma biblioteca pública no ponto de ônibus, em frente á sua casa.
Repassar informação adiante, sem onerar o autor pode ser pirataria, mas para a vizinhança da Estação, que espera inerte algum sinal de vida da Prefeitura, é um ato de amor.
Acho que neste gesto, ele não incentiva a desobediência civil. Apenas quis dar uma mãozinha, e á sua maneira interpretar o conceito punk do "faça você mesmo".
Afinal as pessoas podem ser capazes de seguirem sua vidas, e tentar progredir sem depender de autoridades em sua vidas, incentivando ou violando sua liberdade de expressão.
Na expectativa de dias melhores, ele é mais um Pigmaleão, esculpindo de forma libertária alguns seres humanos. E quem sabe, caros leitores, vocês façam o mesmo?

quinta-feira, 29 de outubro de 2015

Ao Velho Tibiriçá


Meu avô, cumpro mais uma vez a promessa de lhe escrever.
Como estão todos por aí?
Dei pouso para Irmão Leão por estes dias, até ele se ajeitar. Ele aguarda o resultado do raul para uma parada em Telêmaco. O ferramenta com certeza passa. Para mim, nada de teste. Difícil de quebrar esta panela.
Cruzei com Da Hora arranhando tela. O pelego desceu prá Itajaí com Junior Latinha. Anda sempre torcendo para que não puxem sua capivara. Tem medo, depois do que aprontou lá em Barcarena. Teve até que morder a boca para poder fugir da encrenca.
Tenho feito muita correria. Ainda não estou urrando. Guardei parte de minha quita, como o senhor sempre nos ensinou. Solange não aguentou ficar em casa e arranjou emprego num mercadinho aqui de perto.
Continua aquele frio de lascar. Quando estou batendo queixo, para eles é fresquinho. Tem de andar todo encapotado, se não é barril!
Bem, a obra de ampliação na Refinaria chegou ao fim dos três anos, comprei barato um terreno por aqui e logo montei um barraco simples. Engatei outro serviço na cidade da Lapa e mais um tempo em Pontal do Sul na obra do Eike Batista. Tudo perto. Saí com a mão afiada na TIG. O cascudão faço de olhos fechados.
Por mais que o tio Deto me ligasse e o desaconselhasse a ficar, até agora tinha dado tudo certo. Para mim Araucária, ainda era a terra das oportunidades e eu sonhava dar uma vida estável para minhas família.
Acabei com nossa tradição do trecho e tenho me danado por causa desta decisão.
A pior coisa foi ter fincado raízes. Acabou o emprego, as filhas na escola, o ano pela metade e as contas para pagar.
Esta crise de corrupção paralisou obras em toda parte e não há mais contratações. Pode ser com o esquente que for, todos são encaminhados para preencher ficha de cadastro e aguardar. O que eu vi de carterão...
Meio mundo de gente de fora, esperando uma próxima parada. Veio janeiro, carnaval, abril, maio, junho e nada. Só de ouvir o boato, foram chegando milhares de peões. E em julho começou a clarear, quando algumas empresas apareceram no SINE.
Pelo que sei, aconteceram reuniões secretas e indicações de gente de costa quente.
Imagine você acordar cedo para procurar emprego e outra pessoa só por ter um político conhecido se dar bem? As vagas somem antes do balcão de atendimento. A peãozada fez uma arruaça para protestar. E com razão.
O mais triste disso tudo, é saber que toda essa corja será reeleita.
Fiquei tempo demais por aqui e perdi muitos contatos. É ruim ver tanto mineiro chegando nas pousadas com vaga garantida. Faz parte. Já tive vezes de fichar pela porta, não pela janela. Muitos se zangam é claro. Pela primeira vez percebo o outro lado da questão.
Estive engajado em manifestações contra esta corrupção, paramos até a rodovia que corta a cidade. Ajudei o povo protestando contra a desintegração do transporte.
Logo o povo viu que tem mais forasteiro que galego e deram jeito de criar uma lei que ordena que a maioria das vagas devem ser preenchidas pelo povo daqui. Tá lenhado! Esquecem que os papa-pinhão vão para as paradas de Macaé, Rio Grande...
Sempre tive que lutar contra o preconceito de ser de Candeias, por essa fama de grevista que nossa cidade tem. Apenas por ter nascido baiano, o povo torce o nariz.
Não sou aceito como araucariense, mesmo pagando impostos e tendo título de eleitor e residência fixa aqui.
Somos uma nação, mas parece que alguns não tem o direito de ir e vir. Sou nordestino e honro qualquer lugar por onde eu passar.
A gente ouve uma série de absurdos. Dizem que baiano vivem ás custas de Bolsa Família. Se soubessem de toda nossa história. Meu falecido pai, que deixou o couro a vida toda neste mundão e nunca dava ousadia, Seria um quebra-pau se escutasse uma resenha dessas. Aquele ali era metido á cavalo do cão.
Se não for de atrás, o emprego não vem até sua casa - é o que ele sempre dizia.
Tenho muito orgulho de ter tido avô pedreiro, pai carpinteiro e em tornar-me soldador. Vim de uma nobre linhagem de trabalhadores peões que ajudaram a construir o Brasil.
Os mais ignorantes dizem que tem muito emprego por aí. Mas eu só sei trabalhar em obra. Comecei na carpintaria, depois fui prá montagem de tubulação e com muito custo parei na solda. Quem sabe um dia chegue a inspetor. Como é que vou procurar emprego em outra coisa, se tá no sangue ?
Tenho saudades de quando nos reuníamos para ouvir sobre suas andanças em Brasília, Paulo Afonso, Itaipu e os causos das mil paradas de meu pai em Camaçari.
Tantos amigos e tantas coisas boas o trecho nos proporcionou. Conheci Solange na obra da Revap, cada filha nasceu num canto.
Até parece que esqueci de seguir o rumo! Araucária não é lugar para ficar.
Resumindo: Estão para chamar nos próximos dias. Parada de seis meses. Ore por mim.
Deixe estar! Tudo vem no tempo certo, mas vou ficar por aqui até o final do ano.

Mande lembranças á Lambe-sal e Jogador.

Abraços. Inté.

Seu neto, Jeferson

sábado, 3 de outubro de 2015

Infante

Nas andanças pela vila, ele baixa no campinho de terra. Trata jogo sério á bico seco. Sobe a poeira.
Três litros batidas, uma garrafa para cada gol feito. É o combustível necessário para mais uma jornada.
Á troco de mais umas dose, serve de olheiro para os marginais do bareco, enquanto os tiozinhos saem irremediavelmente desorientados pela bebedeira. Manjando o gado, como diz a caterva.
Desce o Iguaçu de barquinho até uma ilhota secreta.

Do tipo que foge do trabalho. Um baita rapaz forte que adoece ao primeiro mês de rotina.
Do tipo que nega satisfação para qualquer vivente.
Do tipo que pouco se sabe. Só se vê passar.

Pescaria, caçar tatu, soltar raia, assar pinhão. O ermitão se ocupa com essas coisas de piá.
Desenrolado. De uma touceira de mato faz seu travesseiro. A fogueira e cachaça dispensam cobertor.
Sem muito bururu. Cada sol á pino anuncia outro dia a não se arrepender.
Foi embora após o garrafão secar. Alegre como menino, cheio de histórias para contar.
Sobe o Iguaçu de barquinho

Do tipo que joga sinuca como ninguém, até provarem o contrário.
Do tipo que desfere um soco, um empurrão e sai acuado, chiando como gambá.
Do tipo que promove confusão e ameaça voltar armado. E como pagaria as partidas, se não fosse assim?

Ás bordas da civilização, perambula sorrateiramente pelo beco do Jardim Norma, oferecendo um bagulho. Com o dinheiro em mãos, adentra o mocó, pula algumas cercas e some do mapa. Viciados e traficantes enganados querem seu couro. A um passo á frente, não tem quem o possa trair.
Ele prova a teoria da janela quebrada, lixeira revirada, parede pichada.
Oferece escuridão por toda parte, quebrando as lâmpadas dos postes.

Do tipo que não se sente culpa em odiar. Será que praga tão devastadora como esta tem coração?
Do tipo que tem poder sobre o alheio. Que se aproveita e se agiganta através do anonimato.
Do tipo que faz dos pinheiros e de sua vila, algo muito pequeno, uma natureza morta.

As nuvens escurecem e a tempestade se arma. Abriga-se em casa depois de tempos sem aparecer. Chovem sugestões de emprego, cursos e estágios. Empapuçado com as propostas, prepara a mochila galo de briga e segue á rodovia pedir carona, sentido Lapa.
Alguns milicos o têm por tolo. Para toda a Infantaria, um herói. Suas histórias aumentam a cada ronda, a cada sumiço, a cada sentinela.

Do tipo que inspira a muito outros. Péssima influência.
Do tipo que pedem a cabeça. Está pra nascer quem lhe põe um cabresto.
Do tipo que não suporta autoridade, patente, sermão.

Um mês na solitária não é o mesmo que estar á toa na vida. Tem uma desculpa para não se mexer do lado de fora. Em seu exílio, assovia e faz graça. Não vê a hora de enfrentar o Iguaçú, até chegar em sua clareira.
El general, ciente de suas andanças, sabe que a gaiola é pior castigo do que a expulsão.
Soam o morteiro, obuseiro, o canhão, mas a tristeza lhe acomete quando a tropa em marcha, cantarola algo que este não pode compartilhar:
- Ser útil é meu fim.

sexta-feira, 26 de junho de 2015

Lombafilia


Mané Zoada, a patrola passou por cima. A polaquinha mais nova do bar, o carro pegou de cheio. Seu Trizótis, foi surpreendido na subida. Gargamel, rodou na aquaplanagem e bateu num poste. Na descida do Szymanski, Seu Trizótis se arrebentou de magrela.
Em consequência, uma lombada a mais. Muitas a mais.
Não há caminho para se fugir delas. Vindo pelo São Sebastião, vindo pela principal. São dezenas por aqui ou ali. Em cada saliência no solo uma morte para contar. Estão aí a dar com o pé, todas essas vidas ceifadas no caos urbano.
Os anos se passam, surgem novas cabeças na administração do urbanismo que mudam os sentidos das ruas, montam rotatórias, implantam sinaleiros e enfim, retiram a lombada. A dor do impacto passou despercebida.
Motoristas loucos, de memória fraca, não evitam que surjam os quebra-molas.
A chuva leva a pequena coroa de flores. A pequena cruz fincada próximo ao meio fio também não suporta a ação dos vândalos.
Tenho um sonho. Cavar um buraco profundo e fincar o poste de aço. Com placa citando nome e data do óbito, inaugurar um novo logradouro para a cidade. Registrar, a primeira lombada fúnebre para informar o nome de inocentes vítimas á posteridade. Sem malograr os mártires araucarienses, e sem amenizar nossa mania por elevações no asfalto.

sábado, 9 de maio de 2015

Muganga


A vizinhança descobriu um pequeno caixão de criança vazio á beira do carreiro.
Um cachorro não me deixou dormir. Atropelado, agonizou por horas até enterrar-se na lama da chuva e desfalecer.
Uma vaca morreu no brejo.. Urubus em revoada no céu sentiam de longe o cheiro de carniça.
O açougueiro é suspeito de roubar alguns nacos de carne para vender.
Policia parou-me no beco. Queriam um bagulho. Arrebentaram o colar que ela me deu, riscaram meu cd de Tuch e levaram minha paz.
Voltei cedo para casa, depois que o gerente pegou-me roubando iogurte na descarga do caminhão. Neguei mesmo com bigode de leite e boca suja.
Um povo esquisito com roupas medievais desceu a ladeira, marchando com trombetas, flâmulas e bandeiras. Nenhum dos piás da esquina conseguiu explicação.
Um ônibus carregado de maloqueiros incitou mais guerras. A pedrada acertou uma dona inocente.
A manhã mais tenebrosa da vila é um passo a mais para o dia do Juízo Final.