sábado, 3 de outubro de 2015

Infante

Nas andanças pela vila, ele baixa no campinho de terra. Trata jogo sério á bico seco. Sobe a poeira.
Três litros batidas, uma garrafa para cada gol feito. É o combustível necessário para mais uma jornada.
Á troco de mais umas dose, serve de olheiro para os marginais do bareco, enquanto os tiozinhos saem irremediavelmente desorientados pela bebedeira. Manjando o gado, como diz a caterva.
Desce o Iguaçu de barquinho até uma ilhota secreta.

Do tipo que foge do trabalho. Um baita rapaz forte que adoece ao primeiro mês de rotina.
Do tipo que nega satisfação para qualquer vivente.
Do tipo que pouco se sabe. Só se vê passar.

Pescaria, caçar tatu, soltar raia, assar pinhão. O ermitão se ocupa com essas coisas de piá.
Desenrolado. De uma touceira de mato faz seu travesseiro. A fogueira e cachaça dispensam cobertor.
Sem muito bururu. Cada sol á pino anuncia outro dia a não se arrepender.
Foi embora após o garrafão secar. Alegre como menino, cheio de histórias para contar.
Sobe o Iguaçu de barquinho

Do tipo que joga sinuca como ninguém, até provarem o contrário.
Do tipo que desfere um soco, um empurrão e sai acuado, chiando como gambá.
Do tipo que promove confusão e ameaça voltar armado. E como pagaria as partidas, se não fosse assim?

Ás bordas da civilização, perambula sorrateiramente pelo beco do Jardim Norma, oferecendo um bagulho. Com o dinheiro em mãos, adentra o mocó, pula algumas cercas e some do mapa. Viciados e traficantes enganados querem seu couro. A um passo á frente, não tem quem o possa trair.
Ele prova a teoria da janela quebrada, lixeira revirada, parede pichada.
Oferece escuridão por toda parte, quebrando as lâmpadas dos postes.

Do tipo que não se sente culpa em odiar. Será que praga tão devastadora como esta tem coração?
Do tipo que tem poder sobre o alheio. Que se aproveita e se agiganta através do anonimato.
Do tipo que faz dos pinheiros e de sua vila, algo muito pequeno, uma natureza morta.

As nuvens escurecem e a tempestade se arma. Abriga-se em casa depois de tempos sem aparecer. Chovem sugestões de emprego, cursos e estágios. Empapuçado com as propostas, prepara a mochila galo de briga e segue á rodovia pedir carona, sentido Lapa.
Alguns milicos o têm por tolo. Para toda a Infantaria, um herói. Suas histórias aumentam a cada ronda, a cada sumiço, a cada sentinela.

Do tipo que inspira a muito outros. Péssima influência.
Do tipo que pedem a cabeça. Está pra nascer quem lhe põe um cabresto.
Do tipo que não suporta autoridade, patente, sermão.

Um mês na solitária não é o mesmo que estar á toa na vida. Tem uma desculpa para não se mexer do lado de fora. Em seu exílio, assovia e faz graça. Não vê a hora de enfrentar o Iguaçú, até chegar em sua clareira.
El general, ciente de suas andanças, sabe que a gaiola é pior castigo do que a expulsão.
Soam o morteiro, obuseiro, o canhão, mas a tristeza lhe acomete quando a tropa em marcha, cantarola algo que este não pode compartilhar:
- Ser útil é meu fim.

Nenhum comentário:

Postar um comentário