sexta-feira, 26 de junho de 2015

Lombafilia


Mané Zoada, a patrola passou por cima. A polaquinha mais nova do bar, o carro pegou de cheio. Seu Trizótis, foi surpreendido na subida. Gargamel, rodou na aquaplanagem e bateu num poste. Na descida do Szymanski, Seu Trizótis se arrebentou de magrela.
Em consequência, uma lombada a mais. Muitas a mais.
Não há caminho para se fugir delas. Vindo pelo São Sebastião, vindo pela principal. São dezenas por aqui ou ali. Em cada saliência no solo uma morte para contar. Estão aí a dar com o pé, todas essas vidas ceifadas no caos urbano.
Os anos se passam, surgem novas cabeças na administração do urbanismo que mudam os sentidos das ruas, montam rotatórias, implantam sinaleiros e enfim, retiram a lombada. A dor do impacto passou despercebida.
Motoristas loucos, de memória fraca, não evitam que surjam os quebra-molas.
A chuva leva a pequena coroa de flores. A pequena cruz fincada próximo ao meio fio também não suporta a ação dos vândalos.
Tenho um sonho. Cavar um buraco profundo e fincar o poste de aço. Com placa citando nome e data do óbito, inaugurar um novo logradouro para a cidade. Registrar, a primeira lombada fúnebre para informar o nome de inocentes vítimas á posteridade. Sem malograr os mártires araucarienses, e sem amenizar nossa mania por elevações no asfalto.