sábado, 27 de julho de 2013

Araupizza


Araucariense monta uma pizzaria pequena. Logo lota o cubículo, sem espaço para tanta gente.
Todos se acotovelam em corredores estreitos, que mal passam as crianças bagunçeiras em sua correria.
Duas famílias animadas comemoram a formatura da filha mais velha. Se acomodam perto da tv, no caso de ter que conversar.
O garçom magrelo vem anotar o pedido (antes que se arrependam). Depressa, volta com uma pilha de pratos e talheres.
Pede para que o pessoal distribua até chegar ao último cliente. Tudo passa de mão em mão.
A coitada da avó é a ultima da fila e recebe o prato manuseado por parentes de higiene duvidosa.
Muitas marcas de polegares, alguns cílios e cabelos depois, chegam os copos. Faltou talher para um e outro.
E é neste rumo, neste ritmo: Tem dias que falta queijo, outros tomate, ás vezes orégano.
Só não falta cliente. Todo mundo fala mal, mas ninguém tem coragem de procurar outro lugar.
Deus me livre, falar em mudar de ares e sair da cidade.
- Seco da nhanha, quer ser granfino, é? Ninguém aqui é rico, viu?

sexta-feira, 26 de julho de 2013

Prova de amor


Mulher para toda a obra. Para o que der e vier.
Sente o drama do bêbado e vai buscá-lo na gandaia. Desde sexta-feira sem voltar para casa.
Roda o centro. Fuça o Bar do Emídio e o Bakanas. Uma volta na Praça, desce até a Rodô.
Até levou umas cantadas. - Ai, se não fosse o enrosco.
De folia com o sem vergonha, está grávida de três meses.
No Operário, conta a história triste e consegue entrar sem pagar. Dá um giro pelo salão e nada.
Enfrenta o medo e pergunta dele pros maloqueiros na pelada da cancha do Seminário.
Quase sem esperança, com o pé calejado de tanto andar. Encontra-o  jogando sinuca no Bola de Ouro.
Traz de arrasto. O boteco não se mete.
Descem a ladeira da Bertolino Pizzato. A candanga de cara amarrada, se equilibra no cano da bicicleta.
Ela bota fé na boleia do camarada. Confia sua vida.
O magrão vindo de gole e a magrela sem freio.
São, ele não é tão mau. Lembra o caminho de casa.

quarta-feira, 17 de julho de 2013

Araucária Zero Grau


Araucária anda muito careta e hoje amanhece no silêncio.
Nenhuma pichação na Trincheira.
Nenhum caminhoneiro reclama da demora em frente ás empresas de gás.
Nenhum baile animado na colonia Cristina, nem novena no Colégio das Irmãs.
Nenhum bêbado atropelado na saída do Bar Texas.
Ninguém se quebra de skate na pista do Tayrá.
Ninguém pula o muro do Szymanski. Ninguém espreita as meninas do Ibrahim - Onde estão as meninas?
Ninguém é encontrado boiando na represa, nem nas margens do rio. Ninguém para reconhecer.
Nenhum piá pega rabeira nos ônibus.
Não há mais assaltos na Trincheira.
Não tem roque no Morro do Piolho.
Não há briga entre colégios. Ninguém cruza os portões do Maria Luiza, nem Marcos Freire.
Nem tarado cochicha, nem criança grita no matagal ao lado do Werka.
Nem sinal de maloqueiros no famoso Escadão do Dalla Torre.
Sem golpe do Paco.
Sem ciganos pela Câmara.
É o paraíso na Terra das Araucárias.



A cidade acorda extremamente fria.
Nesta manhã nenhum corpo é encontrado na estrada rural.
Apesar do frio, ninguém morre congelado debaixo da ponte do Iguaçú.
Pelo beco do Maranhão o esquisito não está mais lá querendo me mostrar um bagulho.
Os sofridos peões de obra não vagam pela praça perguntando por emprego.
As crianças não estão nas linhas de frente das passeatas.
A poeira e areia da rotatória do Jardim Maranhão se acumula, sem ninguém varrer.
A Vila Verde curitibana não apedreja mais os nossos Ligeirinhos
Neste dia, perdemos a sintonia da Radio Iguaçú.
Desta vez, ninguém morre no Tupy. Sequer há alguma ameaça por arma branca.
Os velhos nomes enfim estão fora do poder. E todos os seus cargos comissionados.
É o Paraíso na Terra dos Pinheirais.



É o paraíso da Terra das Araucárias. Abaixo de zero grau.
A neve cai, no entanto, não há ninguém para festejar.
Ninguém vê o lago congelado do Parque Cachoeira. Quem me dera deslizar sobre ele.
Desde a Mulher Elefante até a bela modelo polaquinha, todos estão num lugar melhor sem angústia e sem folia.
se foram os desentendimentos, então ninguém mais leva corridão ao passar pelo Bairro do Costeira.
Simples assim.
Se vão os desejos, então ninguém mais briga pelo poder nas ruas mequetrefes do Jardim Industrial.
Bravo!
Posso julgar a todos como se fosse maus?
Não. A fatalidade não sonda o coração.
A cidade é riscada do mapa.
O inferno são os outros. Os outros lugares.
O recomeço se trata do paraíso em uma nova Tindiquera.



Pessoa cai do Ligeirinho, mecânico serra as pernas de cliente devedor, um carro Caça-fantasmas é roubado e queimado, putas rifadas no Jardim Califórnia, inocente morre em plena Festa do Pêssego!
A cidade bomba-relógio chegou ao fim.
Para que mais araucarienses?

segunda-feira, 8 de julho de 2013

Toró Azul Petróleo


Na terra da batata, foi o maior bafafá 
Toró ou tornado. No cabelo um afuá
Furacao, vendaval, redemoinho, ciclone
Veio TV, bombeiro, Defesa Civil, GM, os "home"
O peão ficou rodado com as voltas que o mundo dá
A pisa dos céus. Mais um indigente na sarjeta.
Fui rogar pra santinha polaca preta 
Eu que não rasgava nada, tomei uma atitude porreta
No imenso portal azul, ajoelhei e me pus a rezar



Em Abaetetuba, não tinha uruca.
Tivesse eu ficado na janela de butuca, 
o vento que sopra na minha baiúca
Putistanga! Não teria feito tanto estrago.
Eu vim de longe pra entrar na parada.
A parada foi outra. Gente vizinha desalojada.
Nem entra, nem sai no Shangri-lá, Serra Dourada.
Num piscar de olhos, foi se embora o meu telhado



Logo tinha parente do Pará me ligando
Viram no jornal, árvore e poste quebrando  
Égua! O susto do incalculável dano
passou quando atendi o celular.
Queriam saber do Katrina em Araucária
Furacão Catarina se bandeou pr'essas área?
Meu nome na latrina, a vida precária
Papa-chibé, isto aqui não é o lugar. 



Saudade da minha lancha vuadeira
A pesca tranquila no barquinho de madeira
Agora, abandonado no fim das três ladeiras
Manoel Ribas, Bertolino e Archelau, 
Faltou São João, Vaquejada, Boi Bumbá 
Este povo não tem o que comemorá
Eu vi o frio violento. E o toró que só faz torá
Onde o vento faz curva afinal


Leite quente dói o dente, oxênte! 
Pé d'água Azul Petróleo leva tudo pela frente
Pessoas vagam pela rua, como zumbis inconscientes
té leso? Bora logo. Melhor sumir se aguará
Cabos caídos, Fios de luz, muito trololó
Tudo emaranhado. Minha vida que deu um nó 
Prefeitura me dá uma mão, mas eu me sinto só
Prefiro mil vezes o Seridó, sem tempestade nenhuma para reclamar



Me deram telha, tijolo e colchão...
Me deu na telha. Além  do teto e perdi o meu chão
Belezal! Minha saída é a demissão. 
Aguardar a quita do gato chegar.
Será uma carreira daqui para o Norte.
No trecho, á mercê da própria sorte. 
Espero não cair neste mesmo golpe
Quero distância deste tal Paraná.