sábado, 4 de abril de 2015

Dulangues


Na periferia de uma cidade-sorriso, ajo como ser metropolitano. Meu chão é o asfalto. Meu horizonte é feito de nuvens de fumaça, torres e labaredas.
Meu meio ambiente é cercado de malacos e violência. Esperto prá vida a base de bomba de cal.
Neste local bruto picho concreto, não velhas araucárias. Primeiro o tubão, depois o pinhão.
O skate nem anda em estradas de terra. Mesmo assim, sempre prossegui sem pensar nas conseqüências.
O vanerão no máximo volume estremecia as paredes do Clube Operário. A dança colada se trata dos últimos resquícios de uma velha época onde o amor ainda era nobre e puro. Acreditar nisto faz parte dos freqüentadores do local. Estes tradicionalistas procuram um par para casar. Só quero esquematizar. Sair da maré brava de secura.
Entrei no breu da pista, deslizando os pés no assoalho de madeira e encontrei a menina das colônias. Dois prá lá, dois prá cá. Não a arrastei para dançar xote, como manda o figurino. Levei-a até o bar e investi num dulangue cabuloso.
Nossos mundos tão diferentes e tão fascinantes. A transgressão se faz novidade para ambos. Fechou o caroço. A polaca de rosto reluzente aceita sair fora e dar umas bandas pelo centro. Ficamos pelas escadarias da Praça Matriz. Nem beatos e nem noiados conseguiram tirar essa brisa.
O marasmo dos próximos dias se torna instigante e crucial para tomar uma atitude. Com coragem, emprestei motocicleta e trilhei a rota para Rio Verde Abaixo. Arrisquei-me a passar em frente ao posto dos guardas andando sem documentos, sem carteira, sem retrovisor, sem segurança alguma.
O amor mata a distância! - eu dizia.
Quebrou aquela baixêra barulhenta e fiquei perdido no meio do nada. Joguei a moto atrás de um matagal e caminhei muitos quilômetros até encontrar um telefone para pedir socorro. Por sorte, o dono do bareco não me cobrou a ligação e até me levou até a chácara da mocinha. Pensou que eu fosse da família.
Fiquei feliz em vê-la, apesar de tudo. Estava convicto de que enfrentar a dificuldade fortaleceria nossa relação.
A parentada, chegada numa prosa em volta do churrasco, ficou contando causos até bem tarde. Simpatizaram comigo e nos deixaram posar junto. Gente finíssima. Fichei certo numa família liberal.
Na confiança, deixei um dinheiro para comprar uma colchão melhor, pois naquele era impraticável dormir. Senti o desenho das tábuas em minhas costas. Nem sabia como ela suportava.
Voltei no outro fim de semana e encontrei o quarto do mesmo jeito. Ela disse que foi mordida por uma aranha marrom. Rapelou o dinheiro numa viagem de taxi para capital. Era caso de vida ou morte, mas reparei o cabelo cheirando a tinta fresca e roupas novas.
E a ambulância? Muito esquisito!
Desembolsei uma grana novamente, pois o mato não favorecia. Tatu, formiga, besouro raposa e preá sempre estavam a atrapalhar. Cadê o sossego na fazenda?
Esperei em vão uma cama macia. Dessa vez, disse que estavam passando uma situação de aperto e precisou de dinheiro para comprar comida para os seus.
Ué, e o porco que estavam pelando? E a horta forrada de verde? E a plantação de milho?
Fiquei na minha, fingindo que compreendia.
Na mesa do jantar, o assunto era um terreno por perto onde descobriram jazidas de ouro. Estavam juntando dinheiro para comprá-lo. Levaram um vizinho para mostrar no dia anterior. Rejeitei a oferta de sociedade. Planos muito altos para mim.
Pedrinha falsa passando de mão em mão brilhava em amarelo.
Achei obvio de que deveria haver alguma lata de spray com tinta dourada escondida pela casa.
Outro chapéu? É grupo! Chega de se engrupir.
Vazei dali para sempre. Não fui mais atrás e ela também desapareceu. Provei o seu desinteresse.
Amor de verão não sobe até a Costeira.
Continuei com o olhar clínico para as pérvas vileiras. Nem tão especiais. Só esquema para me manter longe de Rio Verde Abaixo. No fim, esqueci totalmente.
Escutem o que eu digo.
A distância mata o amor!

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